domingo, 9 de agosto de 2015

Pai



Perdi meu pai quando tinha 5 anos. Há 47 anos atrás. Diziam todos que ele me tratava com muito carinho.

Não me lembro, evidentemente. Era um homem muito carinhoso e honesto.

Ele se foi levado pelo tétano. Minha mãe foi também meu pai durante toda a sua vida até nos deixar aos 94 anos.

Hoje sou pai de três filhos: Luana (24 anos), André (14 anos) e Morgana (10 anos).
Isto é um privilégio. Muitos gostariam de ser pais e não podem. Outros não tiveram a oportunidade. Outros não quiseram, simplesmente.

Ser pai não pode ser decodificado, transplantado ou colocado em fórmulas matemáticas ou ensinar em algum manual.

Ser pai simplesmente não tem como ser ensinado em teoria. As coisas vão acontecendo e você vai aprendendo junto com os filhos.

Luana, minha socialista preferida, já está fazendo doutorado, já saiu de casa. André, meu anjo azul, já se comunica com o mundo do seu jeito (de todos os filhos foi o que mais avançou, porque teve menos oportunidade para isto, devido ao seu quadro autista). Morgana, minha doce artista, vive discutindo teorias filosóficas gregas aos 10 anos.

A felicidade é um conjunto de coisas que temos ou não temos: paz, tranquilidade, sonhos, amigos, família, trabalho, esperança, e tantas outras coisas. A felicidade nunca bateu à minha porta. Quando nasci, ela já estava no sofá da sala me esperando para uma boa conversa que dura até hoje.

Ter três filhos e, entre eles ter um filho especial, o André, me motivou ainda mais a valorizar a vida. Me fez crescer, me provocou uma metamorfose, me fez de crisálida à borboleta, de borboleta à crisálida, de crisálida à borboleta centenas de vezes.

Ter filho é algo inenarrável. Ter um filho especial, então, é de perder o fôlego. É uma aula de vida. Não é fácil. Na vida nada é fácil.

Minha militância enquanto tentativa de melhorar o mundo e não só o meu, me fez ver que a vida vale a pena, sempre. Que dificuldades não são passageiras, são eternas. E temos de transformá-las em experiências para a vida, para a transformação.

Nunca reclamei da vida. Só agradeço. Não perco tempo com amarguras, ou com pessoas amargas. Não vale a pena.

E os filhos não são nossos, são do mundo, são de outro mundo. Na mesma hora que tudo é eterno, também é efêmero, passageiro. Nada é nosso. Os filhos também não. Nós não somos nossos. Somos de algo maior, do Universo. E não temos a menor ideia do que estamos fazendo aqui, perdidos nesta imensidão silenciosa.

Enquanto os filhos e nós estivermos aqui neste mundão, saibamos valorizá-los a cada minuto porque eles estão aqui de passagem, como nós.

Não percamos o trem. Só temos um único bilhete e com data marcada para desembarque.

Pedro Aparecido de Souza

09 de agosto de 2015








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