terça-feira, 14 de outubro de 2014

Desespero pode redundar em proposta de reajuste salarial para os Trabalhadores do Judiciário Federal?



Creio que sim. E baseio a análise em algumas questões.

Se houver proposta do Governo ela terá que vir antes até o dia 24 de outubro, pois o segundo turno das eleições presidenciais ocorrerá no dia 26 de outubro de 2014, um domingo. Não havendo proposta até esta data, a possibilidade de reajuste é quase zero.

Um dos fatores que talvez obrigue o governo federal a fazer uma proposta, baseia-se naquilo que o homem, desde a época das cavernas, briga por ele: o poder.

Passaram-se 12 anos de governo petista e, em nenhum momento, exceto quando estourou o Mensalão na véspera da reeleição de Lula, o governo petista se viu em perigo de perder o poder. Lembremos que naquela época (2006), Lula se viu obrigado, diante das nossas Greves e diante do risco de perder a eleição, a fazer uma proposta de reajuste.

Agora o risco é muito grande. Segundo a pesquisa da Sensus, do dia 11.10.2014, Dilma tem 17% a menos que Aécio. Segundo as pesquisas internas do próprio PT a coisa está em perigo. As próximas pesquisas (e nenhuma é confiável), determinarão o risco do PT sair do poder. As denúncias de corrupção no caso Lava Jato e no caso Petrobras são avassaladoras, quando faltam apenas 12 dias para as eleições.

As últimas pesquisas do Ibope, DataFolha e Vox Populi, dão empate técnico.

Isto significa que, nas condições atuais, a eleição pode se dar por diferença de poucos milhares de votos.

O PT demorou mais de 20 anos para chegar ao poder central. Sabe que se sair, e o PSDB se apoderando do bolsa família e, se dobrar o número de pessoas contempladas pelo bolsa família, o PSDB terá 80 milhões de possíveis eleitores e pode deixar o PT por anos e anos fora do poder central.

Avaliando os riscos, o PT terá que fazer uma proposta para os Trabalhadores do Judiciário Federal. Serão obrigados.

Mas nós temos o poder de decidir uma eleição? Lógico que não. Somos 130 mil Trabalhadores, com uma média de 4 pesssoas na família, com uma média de 3 eleitores por família, o que dá um total de cerca de 400 mil votos.

Aquele que já decidiu sobre o voto por uma questão ideológica, seja eleitor do PT ou do PSDB, não mudará seu voto. Mas aquele que não é voto ideológico e sim, voto de revolta por um único fator, poderá alterar o seu voto. Além do mais, aquele que vota contra o PT e faz campanha contra o PT, por causa do congelamento salarial de 6 anos, irá, na sua grande maioria, diminuir o ritmo de ataques.

Ou seja, uma proposta fará com que menos gente xingue o PT e Dilma. E dependendo da proposta alguns milhares de votos poderão migrar de Aécio para Dilma.

Se Dilma estivesse numa situação confortável com uma diferença de mais de 10 pontos na frente de Aécio, a possibilidade de proposta por parte do governo seria próximo de zero.

Outra vertente que acredito que possa vir uma proposta por parte do governo vem da certeza que nossa pressão com Greves, Paralisações e Atos tem incomodado muito o presidente do STF , o presidente do TSE e presidentes de tribunais.

No caso do TSE, as eleições poderão até não acontecer, ou ter problemas graves, caso aconteça uma Greve na véspera da eleição. E para isto, no dia 22 já está marcado um Ato em cada estado, com possibilidade de paralisação e, quem sabe, até de inviabilização das eleições.

Lembro que em 2012, a presidente do TSE era Carmen Lúcia e se desesperou na véspera da eleição, pois estávamos fazendo um dos maiores Atos na eleição e quase que o registro de candidatura não saiu. Estava eu e Melqui no TSE e ficamos a tarde inteira com Carmen Lúcia e os seus assessores. E ela em desespero completo achando que não aconteceria o registro de candidaturas nos estados por causa da Greve.

Com as Greves e lutas de 2009, 2010, 2011 e 2012, veio o reajuste de 15,8% em 2012, que apesar de pouco, foi importante, porque a proposta era zero e somente com uma Greve com mais 32 Sindicatos de Servidores Públicos Federais conseguimos furar o bloqueio.

Faço a mesma análise da experiência passada. 51 dias de Greve e mais 31 dias, todos no ano de 2014. Esta pressão tem incomodados presidentes de Tribunais, como o de Mato Grosso, Édson Bueno, que cortou o ponto dos Grevistas e os Grevistas tiveram um desconto de 31 dias no salário, que até agora não foi revertido. No TRE-MT há um PAE - Processo Administrativo Eletrônico para cortar as FCs dos grevistas. Em São Paulo houve repressão violenta contra os Grevistas, com a AGU, a pedido do presidente do TRE-SP, com a decisão do desembargador do TRF-3 colocando uma multa de 300 mil reais por dia, multa para cada Grevista e processo administrativo, civil e penal e há outros exemplos de repressão em vários estados da federação.

Ou seja, os patrões administrativos (STF e Tribunais), bem como o patrão (ou patroa) financeira (Governo Federal) estão em desespero. Um porque pode não sair a eleição ou tem atrapalhado o cumprimento de metas. O outro (ou outra) porque pode fazer com que o PT perca o poder central.

Mas existe um outro fato relevante na balança: o desespero.

O desespero nosso também é muito grande e não é de hoje. Estamos chegando num nível de angústia, depressão e tristeza que estamos perdemos o medo. Os Trabalhadores e Trabalhadoras do Judiciário Federal estão doentes. E quando você perde o medo, você é capaz de tudo, inclusive, acabar com a própria vida.(*)

Isto significa que o desespero que toma conta dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Judiciário Federal pode, e com certeza tem, outras fontes também: problemas na família, sociedade neurótica, falta de solidariedade, falta de humanidade. Mas com toda certeza, uma grande parcela e possivelmente a maior parcela de culpa se encontra dentro dos LDTs - Locais de Trabalho. Trabalhadores e Trabalhadoras assediadas, metas intangíveis, desvalorização, depersonalização, invisibilidade. Lembre-se que o TSE fez propaganda das eleições e escondeu todos os Trabalhadores e Trabalhadoras que são concursados e fazem a eleição. As metas estão transformando Trabalhadores e Trabalhadoras em objetos, transformando seres humanos em zumbis.

Quando você tem um partido no poder em desespero, presidentes de tribunais nervosos e Trabalhadores também em desespero, o caldo de indignação pode fazer que os Trabalhadores e Trabalhadoras se rebelem.

O tempo dirá. Sem afobações.

Aguardemos em luta. Dia 15 e 22 de outubro vá para a luta e saia da zona de conforto.

A força da nossa luta é que determinará se teremos proposta ou não.

Você está fazendo a sua parte nesta luta?

* Este texto é também uma nota de solidariedade aos familiares e amigos de duas Trabalhadoras que cometeram suicídio na base de Mato Grosso num período de seis meses e outros três que cometeram suicídio na base de São Paulo num período de três meses. A todos os nossos mortos: Presente!

Pedro Aparecido de Souza

14 de outubro de 2014.

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