Felipe tinha 5 aninhos e era hora de tirá-lo da creche onde ele estudava desde os 2. Liguei para uma escola que dizia ser, segundo seu site, “plural e coerente com uma sociedade mais justa e democrática”. Parecia perfeita. Liguei para saber se tinha vaga. Sim! Na visita, a sorridente diretora me apresentou o projeto pedagógico e as instalações. Ao fim do tour, contei que meu filho era autista. O sorriso dela desapareceu... junto com a vaga.
A história se repetiu em outras cinco escolas. A alegação para a persistente recusa? A falta de condições de receber alunos autistas, começando pela falta de capacitação dos professores. Concordo que sejam escassos os profissionais qualificados para trabalhar com crianças com o transtorno. Mas quando eles existirão? Só no dia em que essa for a realidade das salas de aula.
É claro que o educador, aquele que se comprometeu com a nobre missão de ensinar, não vai fazer discriminação (ou vai?). Ele só precisa conhecer a melhor forma de transmitir seus conhecimentos para essas crianças. Afinal, autistas ou não, cada um de nós aprende de forma diferente.
Alguns dirão: existem as escolas especiais. Acontece que no futuro não haverá bairros especiais, empregos especiais, shoppings especiais. A sistemática exclusão mostra que é preciso, sim, radicalizar a inclusão, primeiramente obrigando as escolas regulares a receber alunos autistas; depois, cobrando regulamentações para as transformações que forem necessárias.
A inclusão é um dos princípios fundamentais dos direitos humanos. Que se faça valer o direito do meu filho. E posso garantir, diretora: se você conhecesse o Felipe, se apaixonaria por ele.
*Luciana Calaza é jornalista e autora do blog “Nosso Príncipe Felipe”
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